Um dos principais desafios de um software vertical é justamente a verticalização, que pode, por vezes, derivar em um tamanho de mercado mais limitado, menor, principalmente comparado com softwares que são mais horizontais, que se beneficiam de um espectro de clientes mais amplo e consequentemente de um mercado maior.
Essa limitação típica de um Vertical SaaS gera outra implicação, que, segundo este artigo do Bessemer Venture Partners, é um dos maiores desafios de um Software Vertical: a necessidade de pensar antecipadamente no seu "segundo ato".
Como um software vai continuar crescendo quando o produto inicial atingir maturidade e diminuir o ritmo de crescimento? Por isso, sabendo que pode demorar facilmente 2-3 anos para um novo produto estar no ar e contribuir para o crescimento do negócio, é fundamental articular essa visão de continuidade antecipadamente.
Ao mesmo tempo, a verticalização também traz uma oportunidade.
A clareza de um nicho ou mercado específico permite uma estratégia de comunicação muito mais segmentada, que muitas vezes deriva em uma eficiência no processo de aquisição de clientes fora da curva, permitindo um crescimento mais robusto comparado com softwares semelhantes que buscam uma comunicação mais ampla e por vezes menos fluída.
Vale lembrar que velocidade de crescimento é fundamental para um Software Vertical, pois a dinâmica de winner takes all (or most) ocorre de forma intensa nesse espaço.
Além dessas características tradicionais de um software vertical citadas acima, nos últimos anos vivemos uma transformação muito relevante: a evolução da infraestrutura tecnológica para oferta – a.k.a democratização – de serviços financeiros por meio dos BaaS (banking as a service).
Empresas no Brasil como Swap – que integra o portfólio ABSeed – e Zoop são exemplos de plataformas white label que permitem empresas/softwares oferecerem serviços financeiros – como empréstimos, seguros, cartões, antecipação – para sua base de clientes de forma simples e, mais importante, integrada ao produto (embedded).
Antes a melhor opção seria a revenda de um serviço de algum banco parceiro, com todos os conhecidos custos e UX de uma parceria com um banco tradicional.
Essa nova dinâmica gera uma experiência muito melhor não só para os clientes, mas também para o software vertical, uma nova e robusta fonte de monetização. Segundo um artigo recente do A16z, quando um SaaS vertical consegue implementar uma camada de serviços financeiros – seguros, empréstimos, cartões, antecipação –, a receita média por usuário aumenta de 2x até 5x.
Com essa nova potencialidade, os SaaS Verticais vêm tomando outra dimensão de atratividade.
Os SaaS Verticais nos EUA já completam cerca de uma década e evidenciam um forte crescimento; o market cap de SaaS Verticais listados na bolsa cresceu de $71B para $653B nos últimos dez anos, com crescimento ainda mais intenso nos últimos cinco anos, conforme figura abaixo:
Nos EUA existem alguns casos públicos marcantes, como a Toast, software para point-of-sale (POS) de restaurantes. A Toast hoje, além do software, oferece processamento de pagamentos e outros serviços integrados na sua plataforma, que robustecem sua proposta de valor e a levam para a liderança dessa categoria na região.
O Veeva, software CRM para a indústria farmacêutica, que ampliou sua atuação oferecendo serviços ligados a research e business operations, também construiu forte liderança nesse segmento.
No Canadá o Shopify, que inicialmente era apenas um software para lojas online, percebeu a complexidade das lojas com processamento de pagamentos e checkout e hoje oferece uma gama de serviços financeiros para sua base gigantesca de varejistas online.
No Brasil temos alguns exemplos recentes e emblemáticos, como da Linx vs. Stone, que simboliza a potencialização de Software + Fintech.
Na ABSeed, olhamos com atenção para esse espaço e já temos alguns casos no portfólio se materializando, como a Aegro, um software para gestão de propriedades rurais. Nos últimos anos, a Aegro conseguiu desenvolver canais de aquisição de clientes proprietários, trazendo previsibilidade e crescimento e construindo uma base robusta de milhares de clientes espalhados pelo Brasil que utilizam seu software.
A Agtech agora está se encaminhando para uma nova tese, o seu "segundo ato", que vai além do software para uma AgFintech, adicionando serviços financeiros além do software, beneficiando-se da base de clientes e de dados estruturados para tornar essa segunda frente de monetização uma grande via de crescimento.
Apesar dos eventuais desafios de limitação de mercado que os Softwares Verticais por vezes podem enfrentar, a evolução da infraestrutura tecnológica, capitaneada pelos BaaS (banking as a service), trouxe uma nova dimensão de monetização para esse modelo de negócio, e os números recentes e surpreendentes em outras regiões mais maduras fortalecem o tamanho da oportunidade.
Estamos animados com a potencialidade que SaaS + Fintech pode trazer para Vertical SaaS e acreditamos que esse é um excelente momento para se investir e apoiar a nova geração de Softwares Verticais que está surgindo no Brasil.
A ABSeed é 100% focada em SaaS B2B no estágio Seed, e estamos estrategicamente posicionados para apoiar essas oportunidades.
Se você está empreendendo nesse modelo (Vertical SaaS) ou conhece founders de alto nível que estejam, temos interesse em conversar. Fale conosco!
Sources:
A16z - https://a16z.com/2020/08/04/fintech-scales-vertical-saas/
BVP - https://www.bvp.com/atlas/ten-lessons-from-a-decade-of-vertical-software-investing